[RESENHA] AISSUR, DE DÊNER B.LOPES

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
Capa: José Serrano

LIVRO – Aissur
SÉRIE – Cidades-Mortas
AUTOR – Dêner B. Lopes
NÚMERO DE PÁGINAS – 258
EDITORA – Chiado
COLEÇÃO – Viagens na Ficção
LANÇAMENTO – 2016
GÊNERO – Literatura Brasileira, Distopia.

SINOPSE: Os organizadores escolherão uma pessoa, a ser chamada Estopim, e mais dez ligadas diretamente ou não a ela.
Os onze participantes serão encaminhados a Cidade-Morta de São Petersburgo, durante o período das noites brancas, por uma semana.
Cada participante receberá sob o peito um chip eletrônico implantado, que permitirá a quem o possuir passar pela Linha de Choque da Estação no último dia e embarcar no Expresso para sua liberdade. Seus maiores obstáculos serão os milhares de Corredores: assassinos que habitam a cidade e têm por foco principal matar os portadores dos chips e, assim, ganhar sua independência.
Os sobreviventes, como prêmio, terão o direto de fazer dois pedidos à nação, desde que sejam realizáveis e aprovados.
Os que ficarem para trás serão deixados para trás.

Aissur lhe deseja morte e, acima de tudo, bem lenta. 

"Agora em um romance adulto, Dêner B. Lopes mostra mais uma vez o pior lado do ser humano e até onde ele é capaz de chegar pela sobrevivência. Aissur é simplesmente impactante."
LITERATORTURA

Para quem já conhece, o primeiro livro se passa em Lisarb (o nosso Brasil), contando a história do Artur e da Monique, no Rio de Janeiro. Já aqui, no segundo volume, Aissur, acompanhamos a história do Pavel, Aleksandr e Thay. Falando rapidamente sobre o a relação dos dois livros, pode-se dizer que Aissur não é uma continuação direta de Cidades-Mortas, visto que é possível ler o segundo volume sem necessariamente já ter lido o primeiro. Porém, eu aconselho ler na ordem de publicação, pois a experiência fará mais sentido no final, vai por mim.

Em seu novo romance, onde acompanhamos três personagens diferentes, já se nota uma narrativa difícil. Aqui, Dêner narra três vozes diferentes em primeira pessoa (no volume um era apenas na visão do Artur). A habilidade de sua escrita é fascinante, nota-se uma evolução considerável no desenvolver da história e dos diálogos, que soam bem naturais mesmo estando num cenário caótico. 

É fácil diferenciar as vozes entre os três personagens, mesmo sendo escritos apenas por um único autor. Isso definitivamente não é para muitos. 

A Rússia futurística é assustadora, e o grande evento do livro consegue ser ainda mais cruel e desumano do que o que acontece em Lisarb. 

"A  organização do programa decide, antes de tudo,  a cidade que será feita a seleção. Dessa, uma única pessoa, chamada "Estopim", é escolhida. A partir dela, se é realizada a Seleção de Teia, onde escolhem 10 outros jovens que estejam ligados ao Estopim; tanto direta como indiretamente: amigos, familiares, desafetos, conhecidos, ex namorados..."
Trecho de Aissur.


Os que são escolhidos a partir do Estopim são denominados "Taxados". E, por fim, os Corredores*. A divisão entre eles é simples: 80% são prisioneiros e os 20% restantes são divididos entre mendigos imigrantes e doentes mentais tirados de manicômios.

* "Logo no início do Cidades eram chamados 'Zumbis', mas a colocação soava utópica demais para os produtores. 'Corredores' surgiu após se perceber a velocidade em que os Zumbis corriam para matar um Taxado. Logo, fixou-se a nominação"
Trecho de Aissur.

Então, três elementos para o reality show, três personagens principais... Nós já sabemos no que isso iria dar. Pavel, Aleksandr e Thay vão parar na Cidade-Morta de São Petersburgo. Cada um por si. 

Não vou contar quem será o quê, pois acho que uma grande diversão da minha leitura de Aissur foi criar teorias ao longo do livro, tentando descobrir quem seria o Estopim, o Taxado e o Corredor.

(Li Aissur na edição digital. Para quem irá ler na versão física, recomendo que NÃO leia a orelha do livro, pois nela você fica sabendo o destino de Pavel, Aleksandr e Thay. Acho que isso estraga um pouco a experiência da leitura.)

Falando neles,os  Corredores são, sem dúvida, a parte mais insana do livro. Cada um dos onze participantes do Cidades tem implantado sob o peito uma chave em forma de chip eletrônico. O objetivo dos Corredores é conseguir uma dessas chaves e, para isso, eles precisam matar o Estopim (que é mais valioso, já que possui dois chips), ou um dos Taxados para conseguir a sua liberdade no último dia de programa. 
Neste dia, o Expresso de Petersburgo chega à estação sul da Cidade-Morta. Há uma linha de choque que impede qualquer pessoa passar por ela, a menos que você porte o chip que os participantes carregam no peito. Só desse jeito que se pode embarcar e voltar para casa, liberto. E os Corredores sabem disso. Eles matam pela própria liberdade. E isso é realmente assustador. E totalmente humano, infelizmente. 

"E a graça está aí. Eles caçam os Taxados para ganhar a sua liberdade. É o que lhes prometeram. Sequer possuem afetos por si mesmos. Todos ali estão sozinhos. Sobrevive o melhor."
Trecho de Aissur.


Acho que o ponto forte de Aissur está aí. O que faríamos se estivéssemos no lugar de um dos Corredores? Nós também mataríamos em troca de nossa liberdade? E se fôssemos um Taxado? Nós mataríamos o Estopim? Afinal, estaríamos lá por causa dele

E, por fim, o desfecho. Se você se surpreendeu com o final do primeiro livro, em Aissur as coisas são ainda mais surpreendentes. O final é de tirar o fôlego, o momento é de tensão, você com certeza irá torcer pelo seu personagem favorito. 

Seguindo a linha do primeiro, em Aissur, mortes também acontecem  de forma natural. Então, prepare o seu coração desde já! Afinal, sangue é o que não falta nesta brilhante sequência de Cidades-Mortas.






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